sexta-feira, 30 de março de 2012

Resenha "Mais Estranho que a Ficção"


Plena sexta feira, eu morto de cansaço me forço a ir pra faculdade porque depois do feriado vai começar a bateria de provas e eu queria pegar os últimos bizus. Mas chego na sala e sou arrebatado por uma boa surpresa. O professor, ignorando a cultura de ou revisar a matéria de dois meses em uma única aula ou jogar ainda mais matéria e colocar um terror de que a prova vai ser difícil, leva uma tevê pra sala e coloca um filme pro pessoal relaxar. Eu tava a ponto de sair de fininho, doido pra ir pra casa, mas o filme me chamou a atenção e eu fiquei.


E, cara, como o filme me agradou! Que história bacana! E, melhor de tudo, fala sobre a arte de escrever, de um jeito filosófico e bem leve.
"Essa é a história de um homem chamado Harold Crick e seu relógio de pulso"
O filme conta a jornade de Harold, muito bem interpretado pelo adorável Will Ferrell. Harold é um homem metódico, que vive sua vida monótona e planejada ao extremo. Tudo muda quando ele começa a ouvir uma voz em sua cabeça, uma voz feminina, que narra tudo o que ele faz e pensa como se ele fosse um personagem em uma história e um narrador em terceira pessoa, onisciente, o guiasse pelo caminho da trama.



O interessante é que, de fato, é essa mesmo a premissa do filme: Harold é um personagem, um dos muitos de uma talentosa escritora que tem o costume de matar todos os seus heróis no fim de seus livros. A escritora, também bem interpretada por Emma Thompson, está passando por um bloqueio criativo e não consegue encontrar uma forma de matar o seu protagonista.
Harold descobre que ele é um personagem e começa a lutar por sua própria vida, para não morrer, com a ajuda de um professor de literatura, interpretado pelo sensacional Dustin Hoffman.
A produção conta ainda com a atriz Maggie Gyllenhaal no papel do love affair do herói atrapalhado.
A premissa do filme, admito, é melhor do que o seu desfecho. Se analisarmos a estrutura do roteiro, percebemos que o roteirista, inconscientemente, acho, acabou por criar dois protagonistas ao invés de um: além de Harold e sua luta por sua própria vida, há a crise da escritora que pode acabar com ela, que se revela como uma nova perspectiva sobre o caminho da história e acho que isso afeta o inconsciente de quem assiste. A platéia assume o olhar do protagonista quando assiste a um filme e os seus problemas e provações são os nossos, nós sofremos com eles. Nesse caso, há uma quebra e acabamos divididos em dois dramas muito distintos, o que acho que afeta o sentimento que nos fica no fim da história. Diferentemente de filmes com múltiplos personagens e múltiplas tramas, como é o caso de "Crash" e "Pulp Fiction", por exemplo, a premissa desse filme não é essa.
Mesmo assim, achei o filme excelente e surreal. Me fez pensar na figura do escritor e em como ele de fato pode ser um deus, dando rumos para vidas ou acabando com elas.
No filme, criador e criatura coexistem no mesmo universo e isso cria uma dinâmica muito legal. Recomendo.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Sinopse/Teaser do meu manuscrito original!

Alô, editores! Uma história elegantemente escrita e um enredo bem estruturado. 


                                 "A JANELA DA ALMA"


Será que eu consigo publicar?





Um misterioso circo, que oferece apresentações impressionantes e que beiram o incrível, chega à cidade de Calípolis, uma pequena   comunidade na região serrana do Rio de Janeiro, causando estardalhaço. Quase que ao mesmo tempo, um bandido mascarado, fugindo da cena do crime após um assalto, é inexplicavelmente morto, atacado por urubus, em plena luz do dia.
Lucas, um desenhista de dezoito anos atormentado pelo suicídio do pai e que presenciou a bizarra morte do mascarado atacado pelas aves carniceiras, utiliza suas habilidades no desenho e se aproxima dos artistas do circo com o pretexto de que quer retratar aquele universo pitoresco com sua arte. Na verdade, o menino suspeita que há uma ligação entre a estranha morte e o novo circo da cidade, e, ignorando os avisos dos amigos, começa a investigar aqueles insólitos personagens circenses, todos dotados de talentos aparentemente sobre-humanos. E o que o menino vai descortinar mudará a sua vida para sempre.
Lucas se torna íntimo dos forasteiros e descobre que o invejável talento dos circenses é proveniente de uma misteriosa bebida, que é ingerida como parte de um ritual do qual ele é convidado a participar. Tentado pelos feitos que via sendo realizados no picadeiro, Lucas não resiste ao chamado do desconhecido e prova do elixir exótico. O resultado? Ele se torna uma versão melhor de si mesmo, mas a um preço que talvez seja muito alto. 
O rapaz imerge em um submundo onde lobos viram  homens e estátuas que ganham vida existem nos bastidores da normalidade. Aos poucos, Lucas se transforma em outra pessoa, livre dos seus medos mais antigos, livre de sua timidez tão incômoda. Nenhum desafio é difícil o bastante para lhe fazer desistir. Toda a sua nova confiança e desprendimento, no entanto, tem um gosto amargo. Há algo de muito errado com ele. Atendendo aos apelos de seus próprios princípios e medos, o rapaz se dá conta de que talvez aquele novo mundo de fantasia não seja para ele. Mas aí, pode ser tarde demais. Tentar sair significa arriscar a própria vida. Ou as de seus amigos mais queridos.  A Janela da Alma é uma história tensa e profunda, sobre um menino que precisa virar um monstro para entender o que é ser um homem.



domingo, 25 de março de 2012

Meme das Onze Coisas

                         
Então, como disse o Bruno... Domingão.. Nada melhor pra relaxar com uma brincadeira e uma oportunidade de conhecer os companheiros blogueiros. O Bruno, do Explorador Cultural, propôs o jogo e vou tentar passar adiane:

Regras:

* Escrever 11 coisas (aleatórias) sobre você no blog;
*Responder às perguntas que a pessoa criou para você e crie 11 novas perguntas para a pessoa que você indicar;
*Escolha as 11 próximas pessoas para responder e indique seus respectivos links no post;
* Vá às páginas e avise quem você indicou;
*Não volte o meme;
*Você tem que postar as regras


Onze coisas sobre mim:

1) Se eu gosto de um filme, eu assisto a ele mais de uma vez. Tem filmes, como Matrix, que já vi umas 200 vezes ou mais, ao longo da minha vida toda. O primeiro Senhor dos Anéis já assisti umas 30 vezes, no mínimo.

2) Eu sou um sujeito teimoso. Muitas vezes quebro a cara com isso, mas algumas outras acabo me dando bem.

3) Sou apaixonado por fotografia. Uma das minhas frustrações foi não ter feito um curso profissionalizante nessa área até hoje. O fato de não haver nenhum na minha cidade também não ajuda.

4) Eu gosto mais do som de vinil do que do de CDs.

5) Eu tenho uma mania bizarra de planejar sequências de lutas na minha cabeça, como se eu fosse algum diretor de filme de ação que não existe. Por isso, meus diretores de cinema preferidos são os mais visuais. Acho que todo diretor tinha que estudar fotografia antes de pegar numa câmera de vídeo.

6) Eu preciso estar fazendo alguma coisa pra ter ideias. Não consigo ter ideias - seja para escrever ou para qualquer outra coisa - quando estou ocioso. E as ideias surgem exatamente quando eu devia estar me concentrando nessa outra coisa que preciso fazer. rs!

7) Eu coleciono gibis. Tem uns 300 aqui em casa, tirando espaço das roupas nas gavetas. Coleciono cartazes de filmes também. Nunca contei, mas tem mais de 50.

8) Prefiro ficar em casa a sair, mesmo que eu não tenha absolutamente nada pra fazer em casa.

9) Histórias de superação sempre me emocionam, apesar de eu não deixar ninguém perceber.

10) Um sonho que tenho desde moleque e ainda não realizei é morar em um grande centro, longe do interior (por um período maior do que seis meses). Morar em São Paulo deve ser demais.

11) Um sonho que eu realizei foi ser aprovado em um concurso público, apesar de isso parecer, muitas vezes, um fardo, agora. rs! (você fica preso à estabilidade e não larga o osso.)

Às perguntas do Bruno:

1)Qual a sua frase favorita?
"Se você tem um sonho, tem que protegê-lo. As pessoas que não podem fazer por si mesmas dirão que você não consegue. Se quer alguma coisa, vá e lute por ela. Ponto final." -De "À Procura da Felicidade".

2) Você sente medo de alguma coisa e por que?

Eu sinto medo de não conquistar o que, na minha cabeça, sei que posso conquistar. O porque é óbvio.

3)Se tivesse o privilégio de fazer 3 pedidos, o que seria?

Que meus pais tivessem saúde e paz de espírito; que as pessoas fossem mais verdadeiras e menos hipócritas; que as pessoas, inclusive eu, tivessem mais sabedoria para entender o que pode e não pode ser e que existe um propósito pra nossa vida que está além do nosso entendimento.

4) Gasta mais com o quê?

Livros. Acadêmicos e não acadêmicos, exatamente nessa ordem.

5) O que fazer em um dia chuvoso?

Namorar. Internet. E ler. - A ordem é imprevisível. rs!

6) Tem algum assunto que te desperta interesse?

Literatura e cinema são os assuntos que mais me despertam o interesse. Mas também me interesso muito por assuntos do mundo jurídico.

7) O que não pode faltar na sua estante?

Stephen King e crônicas do Veríssimo.

8) Cite duas atrizes e dois atores que gosta e o motivo.

Ana Paquim e Merryl Streep - A Ana é bonita e talentosa. Eu tendo a achar as boas atrizes as que carregam essa combinação. A Merryl Streep é porque simplesmente a mulher é uma 'monstra' de atuação. E deve ter sido lá bonitinha, nos seus tempos. rs!

Edward Norton e Al Pacino - O Norton, além de excelente ator, escolhe muito bem os filmes que faz. Alguns filmes que ele fez e eu não gostei da atuação, gostei do filme mesmo assim. Al Pacino... Precisa justificar? rs!

9) Qual estilo literário você prefere?

Nada supera um suspense bem escrito.

10) Um livro e um filme que você amou e outro que odiou.

Livro: "Um mundo perfeito". Eu tenho ele aqui na minha estante, mas esqueci o nome do autor. Péssimo livro. Um livro que eu tenha adorado, dentro outros, foi "Christine", do Stephen King.

Filme: "Matrix" - É o melhor filme da minha geração, simplesmente. Inspirou uma tendência, um marco do cinema mundial, um divisor de águas. O primeiro filme da trilogia, pra mim, é perfeito. Um filme que eu não tenha gostado... esse novo "Underworld".

11) Qual a sua série predileta?

Two and a Half Men, todos os episódios que figuravam o Charlie Sheen. Depois que o Kutcher entrou, parei de assistir.

Minhas perguntas?

1) Qual o seu autor nacional preferido?
2) Com que frequência você acessa o seu próprio blog?
3) Qual o seu filme nacional preferido?
4) Uma música que você não enjoa nunca, mesmo que fique ouvindo-a por anos a fio.
5) Prefere ficção de fantasia e surreal ou ficção realista?
6) Um sonho que ainda não tenha realizado? E um sonho de que você tenha aberto mão, por saber que não vai poder realizar?
7) Quantos livros você lê por ano?
8) Quando é melhor pra ler um bom livro: no frio ou no calor?
9) Já comprou um livro sem ter a menor ideia de como ele seria? O que te fez comprá-lo?
10) Se tivesse que escolher entre viver sem internet, televisão ou livros, de qual deles você abdicaria?
11) Você arrisca ler novos autores ou prefere gastar com os bestellers?

Onze indicados a responderem esse Meme e às perguntas que formulei:




terça-feira, 20 de março de 2012

Da série: eu leio as figuras #2








Valeu, Zé!! Estamos lendo sempre, tudo. Você manda e a gente lê as figuras!


Essa fotografia sensacional é parte da obra de um cara chamado Felipe Morozini. Infinitas leituras tiramos dos ensaios do cara.


Eu leio:




O mundo tem muitos problemas, tantos que não dá pra contar. Era nisso que ele pensava enquanto olhava pra cidade através da janela, depois de um longo dia no escritório. Acreditava na simetria. No planejamento. Foi assim que conseguiu sair da sombra dos pais ricos e trilhar um caminho próprio. Conhecia muitas pessoas com famílias como a dele, que não conseguiam cortar o cordão umbilical. Se orgulhava de tê-lo feito. Era um jovem e ganhara o mundo. Mas o que a perda do abrigo de casa lhe mostrara era que o mundo era um lugar difícil. Muitas vezes, a simetria que funcionava bem no escritório - refletir, planejar, executar - não funcionava do lado de fora. A selva tinha suas próprias regras. Dois anos morando naquela metrópole faminta, que consumia anos, sonhos e a inocência das pessoas. De repente, ele se deu conta, através daquela janela, que vivia num mundo monocromático. De repente, não só as construções pareciam ser feitas do mesmo concreto frio, mas também os sonhos: tinha de ganhar dinheiro para consumir. Consumia para sentir a saciedade que, na verdade, não dependia de bens. De que adiantava aquele carro do ano que tinha acabado de financiar se não tinha um amigo de verdade sequer?

Sim, a esmagadora visão da cidade, tão bela quanto assustadora, o fez pensar nas simetrias. E a simetria do mundo consistia no preço que se pagava pelo que se conquistava ou pelo que se deixava de conquistar. O seu preço era uma rotina ingrata de nove às cinco, que consumia toda a sua energia e o fazia se sentir como um robô. 

Pensava em como todo um país poderia ser traduzido pelo que via através daquela janela, gerações vivendo como robôs. Contemplando aquela liberdade amarga, lembrou-se de seu pai e de como o velho lhe dizia que ele poderia mudar o mundo com a sua mente. Que o pensamento era tão poderoso quanto o cosmos inteiro. Que o Universo precisava dele tanto quanto ele dependia do Universo. Era a simetria. O macro como um reflexo do micro. E vice-versa. 

O mundo era cinza e asséptico e por isso, não era a fumaça que lacrimejava seus olhos. Chorava porque sabia que o cinza frio e impessoal lá fora era apenas um reflexo de seu próprio interior.


E você, o que lê?


;)

segunda-feira, 19 de março de 2012

Da série: Eu leio as figuras #1



Isso posto, bem vindo ao clube daqueles que sabem ler uma boa figura. E por 'figura', leia-se belas fotografias que nos inspiram não só a pensar realidades, mas a divagar além de suas fronteiras, percorrendo caminhos que só o bom contemplador vê.

Pra esse primeiro post, 'roubei' uma bela fotografia do talentoso Mr Guilherme Veiga. Espero que não se importe. ;)

Eu leio:




Eu não precisava tá aqui. Meus dois irmãos estão em casa, nem estão fazendo nada demais. A essa altura, de repente, já até saíram. Futebol. Quanto a mim, não tem nada de tão urgente acontecendo na minha vida pra me fazer levantar cedo num domingo só pra tá aqui. Mas levantei. As coisas são assim com a gente, né. Uma hora tá num lugar, um minuto depois, já foi. Foi assim com meu vizinho. Tava lá, jogando o futebol dele com o pessoal. Era um sujeito saudável, gente boa. No meio da partida, passou mal e morreu. Menos de trinta anos e o coração pifou, que nem relógio quando acaba a bateria. Isso me fez pensar bastante sobre um monte de coisas. Sobre como tudo nessa vida não pára nunca. Tudo é passageiro. Fiquei encucado com isso por esses dias, tentando encontrar alguma coisa nesse mundo que não passasse. Pensei na minha mãe. O amor da minha mãe não é passageiro, é forte, tem raiz. Mas, por outro lado, ela vai deixar essa vida um dia também e quando isso acontecer o que vai ser do sentimento? Já não vai mais ser o mesmo amor, vai ter até outro nome: lembrança. Vai ficar na lembrança de quem não foi ainda. Quem é que consegue viver em paz com umas coisa dessa martelando na cabeça? Pleno domingo! Não vim pedir nada não. Eu não gosto muito desse povo que só vem aqui quando quer pedir. Vim oferecer mesmo. Faço uma reza e fortaleço esse negócio invisível que vai ficar por aqui pra sempre, já que tudo que a gente vê vai acabar indo embora um dia.

E você, o que lê?


sábado, 17 de março de 2012

Exercício Narrativo-Descritivo




  Eu escrevo desde muito novo. Minha mãe guarda uns recortes de um jornalzinho que a minha escola tinha, escola infantil, onde colocavam uns textinhos feitos por mim lá e ela tem o maior carinho por isso. Mais tarde, na mesma escola, participei de festivais de poesias, que eram competições saudáveis organizadas pela instituição, abertas a todos os alunos. Os julgadores eram jornalistas da cidade e professores de português e literatura da escola. Mais escolas deviam fazer isso, acho que é uma iniciativa bacana. Não guardei as medalhas desses festivais (eles presenteavam os 3 primeiros colocados com livros e medalhas), mas tenho quase certeza que minha mãe guarda umas fotos em algum lugar.

À medida que fui ficando mais velho, diminuí o ritmo de prática. Quando adolescente eu lia muitos gibis e jogava muito RPG e acho que escrevia mais naquela época. Depois de velho, faculdade, trabalho e farra acabam fazendo com que a escrita fique relegada a momentos de solidão. Pelo menos é assim para mim. Stephen King disse uma vez que escrever para ele é uma terapia, que se não estivesse escrevendo, estaria se drogando ou tomando remédios. Exageros à parte, acho que concordo com ele. Quando namoro, não escrevo. (Rs!) Mas, quando solteiro, produzo mais e tenho mais tempo para ler também. Hoje não leio mais gibis, o que é uma pena, mas ainda tento encaixar livros de ficção no meio dos montes de livros acadêmicos (uma tarefa difícil!).

Esses tempos, resgatei uma história que tinha escrito há uns dois anos atrás e estou revisando o texto para começar a mandar para editoras. Tenho lido muito sobre o mercado editorial também e, ao que parece, publicar um livro não é nada fácil no Brasil. 

Enfim, estou fugindo do assunto. O que eu queria dizer quando comecei o post é que se a gente não pratica, enferruja. Tem um tempo que não escrevo nada e estou me sentindo extremamente enferrujado! rs! Para remediar isso, além de aumentar o ritmo de leituras, nada melhor do que exercícios:

                                   Chacina na Garagem



  Pedro observava o horizonte através de sua janela. Seu semblante era uma mistura de cansaço e contemplação. Trabalhava no décimo andar de um prédio sofisticado no centro da cidade e, para ele, não havia lugar melhor para assistir ao pôr do sol do que a janela de seu escritório. O dia tinha sido longo, até mesmo para um advogado de seu calibre, que já não precisava colocar tanto a mão na massa - ele era o dono do escritório, patrão de outros cinco profissionais e mais um sem número de estagiários. Havia passado a tarde inteira no fórum, representando um de seus clientes ilustres em uma audiência longa e desgastante e retornara para o escritório tão logo o ato terminara. Seu cliente sagrara-se vencedor, o que já era rotina para ele, e os honorários que receberia serviriam para bancar uma viagem ao exterior com a mulher e os dois filhos no fim do ano.
  Afrouxou o nó da gravata, bebericando os últimos goles de café na xícara que segurava. O céu já estava escuro lá fora, era hora de ir para casa.
  Em menos de cinco minutos, arrumou toda a papelada de sua mesa, jogou fora o que não iria mais servir. Guardou dois autos de processos em sua pasta de couro legítimo, vestiu o paletó e saiu.
  O escritório estava vazio, todos já tinham ido para casa. Pedro cruzou a sala de recepção, revirando um molho de chaves que sacara do bolso. Alcançou a porta, apagou as luzes e desembocou no corredor, trancando o escritório em seguida. Aquele era um prédio comercial. Seus vizinhos eram empresários de todos os tipos: de dentistas a donos de companhias de importação. Estranhamente, não havia ninguém no corredor também. Ele já estava acostumado com o movimento daquele lugar, o prédio parecia pulsar como um ser vivo. Pessoas passavam para lá e para cá o tempo todo, gente apressada falando ao telefone ou carregando contratos importantes. O movimento ali não parecia ter hora nunca para acabar, mas não naquela noite. Naquela noite tudo estava calmo e silencioso.
  Pedro deu de ombros e caminhou sozinho até o elevador, ouvindo o som de seus sapatos contra o chão, o que ele achou divertido. Não se lembrava de outra ocasião em que aquilo tivesse sido possível: o barulho naquele corredor era uma cacofonia que para ele era agradável.
  Entrou no elevador e apertou um botão no painel da parede. As portas se fecharam com um som metálico e logo ele estava em movimento, descendo até o nível subterrâneo da garagem. O elevador tinha uma caixa de som no teto, bem discreta, que sempre tocava músicas instrumentais de grandes mestres como Bach e Beethoven, mas, estranhamente, naquela noite os furinhos lá no teto emitiam um barulho irritante de estática, como o som de uma estação de rádio que tivesse subitamente saído do ar. Era um som incômodo que fez Pedro olhar no relógio com uma súbita impaciência para sair daquela pequena clausura.
  Dez segundos depois, o transporte de metal chegou ao seu destino, a porta dupla se abrindo com mais um click impessoal. Pedro deu dois passos para fora do elevador, as sobrancelhas arqueadas em uma expressão pensativa. 
  A garagem era um enorme espaço com paredes pintadas até a metade com tinta amarela e preta, bem como marcações no chão para indicar as vagas. Pilastras também pintadas se espalhavam pelo lugar como árvores, como se aquilo fosse uma floresta de concreto. O que fez Pedro parar de andar, contudo, era o fato de que não havia luz. As luzes estavam completamente apagadas e ele mal conseguia ver um palmo à sua frente.
  - Que diabo! - Pensou.
  Aquilo nunca acontecera antes. A pouca claridade se extinguiu quando as portas do elevador atrás de si se fecharam, mais uma vez o click metálico como uma badalada de sino, que parecia zombar dele.
  Pensou em retornar para o elevador, mas não lhe adiantaria nada. Ele estava cansado, tinha tido um dia duro. Só queria ir para casa e descansar. Sacou o telefone celular e usou o aparelho como uma lanterna improvisada. 
  Não havia movimento ali. Nenhum som de carros sendo ligados, nenhum ruído de pneus deslizando pelo chão. Portas não eram abertas e fechadas e as únicas passadas que se fizeram ouvir eram as suas, que aumentavam de cadência a cada segundo que ele se dava conta de que estava sozinho.
  Por um momento, esqueceu-se de onde tinha guardado o carro e apertou um botão no chaveiro para desativar o alarme do veículo, o que inevitavelmente entregaria sua localização.
  A uns vinte metros dele um carro preto e elegante, nacional de luxo, emitiu dois ruídos compassados de buzina.
  - Pronto. - Aliviou-se.
  Subitamente ansioso, Pedro apressou-se em direção ao veículo, mas algo no meio do caminho fez com que parasse. Alguma coisa ou alguém acabara de passar muito perto dele, de modo que ele sentira que algo roçava em suas costas. Virou-se assustado, o celular a postos como uma lanterna, sem, contudo, ver ninguém. Em seguida, ouviu passos. Alguém corria por ali, não muito longe dele. Quem quer que fosse, correu e parou.
  Pedro começava a se alarmar de verdade, o coração acelerando-se de repente. Ignorou a curiosidade e a sua caminhada em direção ao carro se transformou num trote desesperado.
  Revirou as chaves em sua mão, mas o molho escapuliu e caiu no chão com um barulho irritante. Pedro se abaixou para pegá-as e, novamente, sentiu que alguém passava por trás de si. 
  Num movimento colérico, girou o corpo, o braço que segurava a pasta esticado para servir de arma, mas só o que ele atingiu foi vento.
  --- Quem está aí? - Perguntou.
  Não houve resposta. Ouviu  mais passos. Não era só uma pessoa que se escondia naquela escuridão, havia mais gente. Havia um pequeno bando ali que só podia estar querendo assaltá-lo ou matá-lo ou os dois, não necessariamente nessa ordem. Era só o que faltava. Ele acabara de derrotar um advogado implacável em uma audiência não muito tempo atrás, impressionara juiz e promotor com sua habilidade, ganhara uma bolada de dinheiro para perder tudo daquele jeito ridículo, sozinho e esquecido numa garagem subterrânea.
  Seu coração era uma bomba dentro de seu peito, cada batida um som de tambor. Alguém se aproximava novamente. Ele podia sentir. Passos e uma respiração irregular, talvez tão ansiosa quanto a sua. Pedro apanhou as chaves às pressas e correu até o carro. O desconhecido seguiu-o.
  Ele chegou até o carro, que já estava destrancado desde que ele apertara o botão do alarme. Alcançou a porta. Havia alguém bem atrás dele e iria pegá-lo a qualquer momento.
  Num último rompante de desespero, Pedro cerrou os punhos. Assim que tocassem nele, iria distribuir uns socos. Ele não sabia nada de briga, mas era um guerreiro, sempre fora, durante toda a sua vida. Não iria morrer como um covarde. Virou-se, encostando as costas na porta, os punhos cerrados. Suava frio.
  As luzes se acenderam, uma claridade que invadiu seus olhos e cegou-o momentaneamente. Pedro deixou a pasta cair no chão e esfregou os olhos com as mãos. Abriu-os.
  De trás das pilastras e de todos os cantos do lugar, pessoas saíam, como que saindo de esconderijos. Estavam agachados ou espremidos contra as paredes e relaxavam os corpos agora, todos com sorrisos nos lábios. Carregavam salgados, refrigerantes e doces. Alguns tinham presentes nas mãos, embrulhados em papéis chamativos.
  À sua frente, um de seus estagiários, um menino magricela que estava no último ano do curso de Direito segurava um bolo de chocolate numa bandeja de plástico e sorria:
  --- Surpresa! Feliz aniversário!
  Pedro arriou os ombros com um suspiro, deixando o ar escapar lentamente por sua boca semi-aberta. A tensão foi embora num segundo e ele coçou a nuca, envergonhado. Permitiu-se sorrir. Pelo jeito, assim como o dia, a noite também seria longa. Sentiu-se grato por isso.

sábado, 10 de março de 2012

Sobre cafés em padarias

                                              


Eu me lembro de uma noite, quando eu era um moleque, devia ter uns 14 pra 15 anos, talvez um pouco menos. Já era tarde e eu tinha ficado acordado sozinho na sala do antigo apartamento da minha família pra assistir a algum filme. Não lembro qual era o filme, mas me recordo que tinha algo a ver com o mar e que ele deixou uma sensação em mim quando a história acabou, algo de positivo e encorajador, do tipo "vá lá e faça você mesmo", "seja alguém, agarre o seu destino".

Eu era só um moleque e aquilo me fez tão bem, conectou os meus botões e me deixou com vontade de ser alguém.

O filme tinha acabado e eu fui até a janela gradeada, ajoelhei na poltrona que ficava bem abaixo dela, debrucei sobre o vão de alumínio, nostálgico de algo que eu ainda não tinha vivenciado. Lembro que olhei pra cima e vi um monte de estrelas e, secretamente, desejei que um dia eu percorresse uma jornada tão fantástica quanto à do personagem principal daquele filme.

Eu cresci e a vida foi me lançando suas investidas, ondas suaves batendo na pedra, até finalmente começar a moldá-la. Eu percebi que a jornada daquele personagem do filme pop que me impressionara tanto na época não é nada comparada ao que acontece com gente de carne e osso, gente que não tem o charme de um James Franco e que não fala palavras que foram escritas por Oliver Stone.

Enfim, as ondas continuaram a bater e me afetaram tanto! Me transformaram num homem! Logo eu, que ainda sinto calafrios quando tenho que falar em público e que ainda hesito milhares de vezes antes de me aproximar de uma mulher. Logo eu que, assistindo àquele filme, olhei pro céu e desejei estar naquele mesmo mar, achando que as espumas das ondas tinham gosto de baunilha. Não têm. São águas salgadas e têm gosto de lágrimas.

Mas num dia desses, como outro qualquer, saindo do trabalho, parei numa padaria pra forrar o estômago. 

"Meia de café com leite e um maço de Luckys, por favor!" - Se naquele filme o mar parecia ter água doce e os cigarros, um gosto vazio de fumaça, no mundo em que eu vivo, a água é lágrima  e os cigarros têm um gosto de conforto.

Enquanto bebia e fumava, me peguei olhando pro céu de novo. Me dei conta de que lá estavam as mesmas estrelas, me encarando de volta.
Fechei os olhos e desejei.